Paêbiru: A viagem psicodélica que brotou na Pedra do Ingá na Paraíba,

Em 1975, nascia uma das obras mais enigmáticas da música brasileira: Paêbirú – Caminho da Montanha do Sol, de Lula Côrtes e Zé Ramalho. Mais que um disco, um portal. Inspirado nas itacoatiaras da Pedra do Ingá, um dos mais misteriosos sítios arqueológicos das Américas, o álbum foi concebido após uma expedição mística dos artistas ao sertão paraibano.

Nas pedras do Ingá, inscrições milenares resistem ao tempo — formas espiraladas, símbolos solares e grafismos de origem até hoje indecifrada. Ali, em meio a experiências psicodélicas com cogumelos e rituais à beira do rio, os músicos vivenciaram um transe criativo que daria origem a um dos discos mais raros e cultuados do Brasil.

Paêbirú é dividido em quatro elementos — Terra, Fogo, Ar e Água — cada lado do LP explorando texturas sonoras com instrumentos como tricórdios, flautas e guitarras distorcidas. O disco foi gravado em Recife em apenas dois dias e meio, no estúdio Rozenblit, com colaborações de Alceu Valença, Geraldo Azevedo e outros nomes da cena pernambucana dos anos 1970.


Mais de mil cópias foram perdidas em uma enchente, transformando o álbum original em uma peça rara, hoje avaliada em até R$ 5 mil. Reeditado na Europa em 2005 e relançado no Brasil em 2024, Paêbirú permanece como um testemunho da arte que brota do improvável: entre o sertão, o sagrado, e o som.


É um disco que fala com o invisível. Um chamado dos ancestrais, onde a pedra canta, o tempo dobra e o Brasil profundo revela sua face cósmica.

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